O perfil de Domingo Sodré vem se somar a outros estudos biográficos de indivíduos que experimentaram a escravidão e depois conseguiram superá-la, como Rosa Egípcia, Chica da Silva, Caetana, Liberata etc. Retirados do anonimato, esses trajetos individuais permitem nova compreensão da sociedade brasileira oitocentista, crivada por tensões entre camadas sociais e códigos culturais distintos. Reinventando valores e práticas, africanos natos como Domingos funcionam como mediadores culturais no Brasil escravista: circulam entre o candomblé e o catolicismo, a medicina africana e a ocidental, a justiça dos pretos e a dos brancos. A condição de \"feiticeiro\" e adivinho confere a Domingos lugar social particular. Se, por um lado, é perseguido em razão de práticas \"mágicas\" consideradas perigosas, por outro, a posição de líder religioso permite-lhe barganhar algum espaço no mundo dos brancos.\r\n