Por Carla Rodrigues, jornalista e professora da PUC-Rio\n\nUma das definições de nostalgia é o desejo de voltar ao passado, a uma forma de existência que se perdeu. Contaminados por essa melancolia, muitos pesquisadores debruçam-se sobre as novas tecnologias de informação com o olhar dos que preferiam evitar as alterações trazidas pela chegada da Internet, da telefonia celular, das ferramentas de interação instantâneas e em rede. \n\nFelizmente, Cabeças digitais – O cotidiano na era da informação não está impregnado desse saudosismo. Ao contrário, os autores enfrentam a invasão tecnológica com a abordagem dos que nem buscam exclusivamente a novidade nem pretendem julgar as transformações, mas sobretudo pensar sobre impactos e desdobramentos dessas mudanças.\n\nDe caráter multidisciplinar – uma exigência que as características da rede de computadores acaba por impor – os 12 artigos levam a uma experiência de leitura em hipertexto, na qual links e conexões ficam ora explícitos, ora sutilmente implícitos, mas sempre presentes. Temas como convergência, fusão e separação entre virtual e real, identidade e fragmentação, subjetividade e objetividade estão em pauta seja na análise de comportamento dos jovens, seja na discussão sobre a forma como os programadores de software encaram a tarefa de escrever linhas de código.\n\nFenômenos recentes como o Orkut também estão corajosamente abordados por pesquisadores que não se intimidam com a excessiva proximidade dos eventos para empreender suas análises, imbuídos do mesmo espírito com que o filósofo Gilles Deleuze enfrenta a questão da sociedade de informação: “É fácil fazer corresponder a cada sociedade certos tipos de máquina, não porque as máquinas sejam determinantes, mas porque elas exprimem as formas sociais capazes de lhes darem nascimento e utilizá-las”. \n\nAs reflexões deste livro são sobre a expressão dessas diversas formas sociais e certamente ajudarão o leitor na compreensão das intrincadas tramas tecidas entre tecnologias de informação e sujeitos impregnados por essa instigante experiência contemporânea.