De cara você se percebe no bojo da aeronave a jato, em pleno voo, como se despertasse no meio da viagem.
Deslocar o leitor para 10.000 m de altitude não é proeza para escritor qualquer. É preciso propulsão e, a um só tempo,
tirocínio. Domínio mais uma vez mostrado por Hugo Almeida ao dar partida em Certos casais, no primeiro conto, “O sono
do vulcão”, com palavras comuns, de uso diário: “Deus fez o mundo à toa? Tudo tem motivo?”. Nada de abracadabras ou
bababadalgharas. Fazer com que a cabeça do leitor permaneça nas nuvens exige ainda mais. Por obra e arte de Hugo, você já ficou
refém, sem apelo, no “longo voo, agora noturno”, a ouvir “turbinas, incansáveis, lá fora”, e turbulências, concomitantes, lá dentro. Cá dentro, de você. Que está
pensando e sentindo com o narrador, dividindo a atenção entre a escapadela de alta voltagem, em curso, com a passageira do banco de trás, affaire entre pé deslizante e mãos, idem, e a espiadela de duplo sentido: “Lá embaixo, fogo – o Brasil arde