Diante da ascensão de regimes totalitários que marcaram o início do século XX, e que insistem em retornar nos dias atuais com o ódio ao diferente, se faz necessário recolocar o problema do outro. Não à toa, tal questão constitui um dos maiores temas da ética e da filosofia política contemporânea, bem como das chamadas “filosofias da diferença”. É neste contexto que a filosofia de Maurice Merleau-Ponty se situa. Pensar uma filosofia que não reproduza uma lógica fundada na centralidade do sujeito, do cogito, é a condição para a relação com o diferente. Não há experiência da alteridade quando a existência do outro depende do poder de constituição do eu. A fim de radicalizar nossa encarnação ao mundo, Merleau-Ponty buscará, na Fenomenologia da percepção, ressignificar a percepção, o sensível e a subjetividade, de modo que a relação com o outro esteja assentada numa dimensão que antecede nosso poder de constituição do mundo. No entanto, é a partir dos anos 50 que o filósofo tentará acentuar