“O ator é um atleta do coração”. Com essa frase, Antonin Artaud não poderia ter ido mais longe no entendimento dos duplos do teatro. O atletismo afetivo ao qual ele se refere faz do teatro uma experiência sensível para captar até mesmo os mínimos instantes metafísicos de forças adormecidas. Para além do manifesto do teatro da crueldade no começo dos anos 1930, Artaud desmonta os psicologismos do teatro moderno e, sob o princípio do duplo, o teatro é posto à prova pela cultura, pela peste, pela própria metafísica, pelos procedimentos alquímicos até atingir os pontos de tensão entre ocidente e oriente. Esse teatro tem uma linguagem concreta: busca-se uma dignidade típica de exorcismos particulares. Eis uma espécie de possessão pelas formas de sentidos e de significações. Muito atento à linguagem, Artaud buscou extrair dela uma capacidade primeira de feitiço, podendo ser um detalhe ou uma articulação de detalhes. Diante da cena e em cena, emerge um teatro de transes, cujo repertório totêm